Revista Jardins

Hoje comprei a revista Jardins. É “a única revista portuguesa sobre jardins”, como anunciam na capa. Há muito tempo que não a comprava, a sensação de não aprender quase nada de novo, os erros ortográficos e gralhas sem fim, o design mediano na melhor das hipóteses… tudo contribuiu para a nossa falta de entusiasmo pela revista.

O núcleo do conteúdo é uma tradução, provavelmente da versão espanhola, nem sempre o acho muito interessante. De todos os artigos, os que mais gosto, são os que falam dos jardins do nosso país. No entanto, nas legendas das fotografias, não se identificam nenhumas das plantas, nem as mais proeminentes. Acho estranho, numa revista especializada. Também gosto da última página, de Vera Nobre da Costa — não sei bem porquê, talvez me faça lembrar este blog ao falar de situações práticas do seu próprio jardim e não de jardins perfeitos, ilustrados com belas garotas, sempre a regarem sorridentemente.
Mas, mais estranho que isso, aliás nada menos que bizarro, é terem escolhido a temível Mimosa como “planta do mês” no número de Fevereiro (já tinha sido referida também em Janeiro). O director Luis Melo, vem numa nota, tentar justificar o injustificável. Uma revista especializada não sabe que a Mimosa é uma terrível invasora? Ignora, que faz parte das (poucas) plantas proibidas por lei no nosso país? Uma revista que no seu conselho editorial inclui garbosamente sete arquitectos paisagistas, dois engenheiros agrónomos, um engenheiro agrícola, um engenheiro hortofrutícula e um paisagista?
Luis Melo vem reconhecer o óbvio, “errámos”. Ufanamente, bate mais um bocadinho no ceguinho, “Porque, apesar de invasora, a Mimosa existe e como tal merece ser objecto de divulgação numa revista de jardinagem, embora sem se promover a plantação e propagação, o que sucedeu como uma falha já assumida”. É o despontar de uma nova filosofia, a do “existo, logo mereço”. Mas existem dezenas de milhar de espécies que a revista nunca falou, porquê insistir nesta?
E (re)insiste, “Por isso, não vamos deixar de falar em qualquer tipo de espécie por se tratarem de invasoras ou de plantação proibida por lei. Vamos dar espaço a este tipo de plantas sempre que se justificar, quanto mais não seja para revelar os perigos ambientais que a plantação pode acarretar”. Como declaração de independência, não está mal, mas onde para a credibilidade? Zero.
É realmente uma publicação muito fraca. Desde o primeiro número que me queixo da ortografia e de erros factuais que com os meus parcos conhecimentos detectei, sabendo que errar é humano, etc, etc. Mas, que publicação digna desse nome, passados que estão trinta números e quase três anos, continua a não usar sequer um simples corrector ortográfico? Do pouco que li neste número, logo na sexta página: “Não é necessário vvar nem colocar cimento para inseriri as placas no terreno”, continuando ficamos a saber que “a alta flexibilidade do aço inoxidável permite dobrar facilmente o perfil até 200”. 200 quê? Isto nem sentido faz, é terrível. Se calhar, o resto está de uma perfeição imaculada, eu é que não me acredito, já vamos assim na página seis e sinceramente tenho pouca vontade de ir verificar. Não é revista que se possa recomendar.
PS: Não percebi, como o artigo em questão, sendo uma tradução previsivelmente de outro país que não a Austrália, elege à partida a Mimosa como “planta do mês”. A falta de credibilidade da revista já deve vir de longe, desconfio que do país vizinho. Posso estar enganado, mas facilmente se publicava cá uma revista infinitamente superior, em vez de se estar importar este lixómetro.

Uma resposta para“Revista Jardins”

  1. Cerveira Pinto

    Pois…Também não duvido. A questão é que é sempre muito mais fácil copiar algo que já está feito do que fazer algo novo (“Facile est inventis addere”)… É mais um dos males que aflige este país e passa-se em todos os outros campos. Por isso não temos produtos próprios, de qualidade, que rivalizem com o que é importado, para além das óbvias excepções à regra. Por isso as fábricas têxteis e de mobiliário fecham umas a seguir às outras, por isso o país é um caos ambiental e urbanístico…
    É bom que se denunciem estas situações, mas será ainda melhor que se comecem a criar rapidamente alternativas. Mesmo assim tenho receio de que já não seja a tempo…
    Oxalá me engane!

  2. João

    Quando vi a revista pela primeira vez, em 2003, comprei-a de imediato. “Porreiro, uma revista de jardinagem em Português!” e a minha decepção foi igual ou maior que a anterior expectativa. E o facto de fazerem de uma Acácia a planta do mês só vem acentuar a falta de objectividade e fraco conteúdo proporcionado pela única revista de jardinagem do pais. Podiam no mínimo ter referido os problemas que elas causam quando libertadas no meio ambiente. Ver aqui. Fora os pontos positivos já referidos, será que esta publicação ajuda realmente à divulgação e promoção de métodos de
    jardinagem contemporâneos, da horticultura como ciência, adaptadas à realidade de Portugal continental e ilhas? Eu estudo Horticultura e Paisagismo em Inglaterra,leio bastantes revistas, publicações e livros sobre estes temas, e na minha opinião, a “Jardins” faz muito pouco ou nada. Precisamos de sangue novo.

  3. armando

    Também eu comprei um número ou dois desta revista.
    Subscrevo o que foi dito: revista fraca, superficial, sem rigor, sem pujança.
    Em qualquer país da europa existem dezenas de revistas sobre jardinagem, só no nosso não.

    Canoa que andas perdida … nunca mais voltas ao cais…

  4. Teresa Loureiro

    Vim parar aqui por acaso… e achei curiosos os comentários, mais uma típica posição de Português: sempre a queixar-se mas sem ter nenhuma acção especifica…Já pensaram em enviar as críticas ou sugestões específicas para o director da revista? Possivelmente fariam melhor, se têm efectivamente alguma coisa a dizer, e ajudariam a melhorar a sua qualidade. Se pararmos de nos queixar e dermos o nosso melhor naquilo que fazemos, talvez deixe de fazer sentido andarmos sempre a olhar para a “galinha do nosso vizinho”. Podem pensar que estou ligada à revista, mas não, simplesmente prefiro comprar uma revista portuguesa, mesmo que não tenha ilustrações XPTO do que comprar outra que seja muito elaborada mas pouco prática e em nada relacionada com a realidade do nosso clima e solo.

  5. jrf

    Permita-me discordar. O típico português é denegrir o que é nosso e bom. Mas, também somos o povo do 8 e 80. Há depois as pessoas que defendem algo só por ser português, mesmo que seja mau.
    Eu nunca olho para “a galinha do vizinho”, por princípio. Mas não se fala de galinheiros neste post. Trata-se de uma publicação pública e que paguei umas 10 ou 12 vezes para adquirir.
    Também falando por mim, não escrevo para o director porque na minha opinião a revista não vale a pena. É fraca e há muito tempo.
    Mas, essencialmente, parece que não lê a revista. O que é que as mimosas têm a ver com o nosso clima e solo, por exemplo? A maior parte dos artigos práticos são traduzidos. E o que é o nosso clima e solo? Eu no Sargaçal tenho vários tipos de solo, às vezes a poucos metros de distância. A Europa em geral, tem no essencial um clima temperado, pode aproveitar praticamente todos os artigos de uma revista inglesa. Pessoalmente, tanto nos livros como revistas inglesas, “adianto” um pouco o calendário e é tudo — de 15 a 30 dias. Num mapa de temperaturas, dividido em zonas, poderá ver que nos encontramos numa zona comum a países bastante distantes.
    Por fim, há a questão da ortografia, que para mim numa revista não é um mero detalhe. Se a publicação é em português, há regras de escrita que a um nível profissional não deviam mesmo ser atropeladas.
    A Teresa podia ter uma atitude positiva e em vez de exacerbar o “portuguesismo mesquinho” de quem comentou, podia destacar o que de positivo tem a revista “Jardins”. Eu tive a preocupação de apontar o pouco, que apesar de tudo gosto, porque não nos diz o muito que vale a pena? Eu estou sempre disposto a mudar de opinião, mas agora que assinamos a Organic Gardening e a Gardener’s World, duvido que me convença.
    Não penso que esteja ligada à revista, obrigado pela visita.

  6. manuela

    Eu colaborei durante cerca de 6 meses (gratuitamente) nessa revista com uns artigos intitulados “Os nomes das árvores”. Escrevi sobre os nomes das árvores (em geral), o plátano, o castanheiro-da-índia, o metrosidero, e a romãzeira. Com a única justificação de que precisavam, por ordem dos administradores, de reduzir as participações genuinamente portuguesas e aumentar o número de páginas traduzidas (sic) do modelo espanhol, fui “despedida” em cima da hora nem sequer com um mês de antecedência.(Já lá vão cerca de 18 meses)
    Ofereci os meus préstimos para participar nessa revista porque adoro escrever sobre árvores (na altura não tinha o blog, por ser a “única Revista sobre Jardins” cá do nosso jardim à beira -mar plantado e porque apreciava justamente as reportagens sobre os jardins portugueses e sobre os trabalhos de alguns arquitectos paisagistas assim como a rubrica sobre plantas aromáticas que entretanto ja desapareceu também. O profissionalismo dos responsáveis na altura, pareceu-me pouco exemplar para não dizer outra coisa. Da Revista continuo a ler apenas as reportagens sobre jardins portugueses e a rubrica de Vera da Costa, mais nada.

  7. jrf

    Eu lembro-me desse texto sobre o Castanheiro-da-india, não sabia de quem era :) .

  8. Manuela

    Esqueci-me de uma: Araucárias!
    Eu nao quero ser mazinha… mas uma vez num horto de uma pessoa conhecida (q tb conheces;-) falei da Revista e disseram-me q tinham comprado uma vez mas q os erros de traducao eram tantos que nunca mais tinham comprado. Deram-me o exemplo de “platano”, termo q em esp. quer dizer bananas, traduzido para… “plátano”.Bem já fui mazinha. Mas agora, com a prática as traduçoes devem estar malhores, no?

  9. jrf

    Si, claro hombre, por supuesto. Muy buenas! Buenissímas! :)
    Também me lembro desse das Araucárias.

  10. lcm

    há por aí outra revista “arte jardins e….” talvez melhor ou nem por isso ?

  11. jrf

    Se for a que eu estou a pensar, nem deu para comprar.
    Pareceu-me uma daquelas revistas que são feitas a pensar na publicidade. Ou seja, a linha editorial é a própria publicidade.
    É uma espécie de revista da própria indústria, por exemplo recolhem publicidade de piscinas e pavimentos e fazem uns artigozitos sobre piscinas e pavimentos.

  12. Arlindo Almeida

    Ora bem. Por falta de tempo não costumo entrar em blogs ou grandes discussões.
    Porém como sou apaixonado por jardins logo que vi a revista nas papelarias, tornei-me assinante.
    Tendo a minha mulher, um centro de jardinagem, procurei ajudar na divulgação da revista, promovendo a sua venda.
    Comentar a qualidade da mesma é que me é difícil, poi não gostando de dizer mal, dizer bem só se for por delicadeza !
    O que fazer ?
    Continuar a criticar com cortezia, e esperar que os editores, ao tomar conhecimento de tais criticas, promovam gradualmente algumas das melhorias que se impõem.

  13. Quinta do Sargaçal – Mimosa, a árvore do mês

    […] querem plantar-se Robínias (Árvores de Portugal) e agora chega a Mimosa como árvore do mês (e nem é a primeira vez, a Revista Jardins também já lhe tinha atribuído esse galardão), mas a verdade é que estas plantas são invasoras, foram reconhecidas como tal e são alvo do […]

Deixe um comentário

Mantenha-se no tópico, seja simpático e escreva em português correcto. É permitido algum HTML básico. O seu e-mail não será publicado.

Subscreva este feed de comentários via RSS

Este site utiliza o Akismet para reduzir spam. Fica a saber como são processados os dados dos comentários.