Pode ser de 42 mas é tão actual como “As farpas”, do Eça e do Ortigão, 60 ou 70 anos antes. Tão estranhamente actual que arrepia.

Há cerca de um ano atrás tive a jantar em minha casa um casal de velhos cubanos, conhecidos em pleno mercado de Havana. Ficámos amigos e numa volta pela Europa ( ele é neto de espanhóis), deu uma saltada ao Porto onde tinha de resto uma filha a morar.

Gostaram da sobremesa e achei simpático dar-lhes, já no final da noite, um pedaço para levarem. Preparava-me para embrulhar o troço num novo bocado de papel de alumínio quando surpreendi um olhar trocado pelo casal; um olhar entre o atónito e o cúmplice. Não gosto de indefinições. Quis saber porquê. A resposta veio pronta: em Cuba esse bocado de alumínio dava pelo menos para usar mais três ou quatro vezes.
Não sou de m envergonhar com facilidade, mas acho que essa foi uma das alturas em que isso aconteceu.
Fiquei a pensar quantas vezes gasto(mos) eu(nós) isto e aquilo sem ser absolutamente nada necessário? Só porque é mais fácil? E porque “podemos”?