Ainda a Avenida dos Aliados

Hoje fui à baixa, aproveitei para passar na Livraria Chaminé da Mota e ao descer a Avenida dos Aliados, reparo num detalhe curioso.
No meio daquele empredrado projectado pelo arquitecto Siza Vieira, umas precárias cadeiras, mais que precárias, pindéricas. Umas com mesa, outras sem mesa. Gostei especialmente do detalhe de cada uma ter uma espécie de cabo de bicicleta a prendê-las ao chão.
Mais abaixo, quatro bancos de jardim à antiga portuguesa — com encosto e essas piroseiras –, completamente desenquadrados do chão de Siza Vieira. Chão, que é ao que agora se resume a avenida, se exceptuarmos um tanque que para lá anda, de resto, seco.
Mas pasme-se, cadeirinhas e bancos, tudo ocupado ali no meio daquela desolação. Ainda não é tarde para o arquitecto Siza Vieira reconhecer que errou, a obra é fraca e que está na hora de entregar o projecto a quem está mais vocacionado para este tipo de intervenções. Gaste-se mais algum, mas recupere-se aquela praça para os portuenses e para as muitas pessoas que nos visitam. Como está é o retrato da decadência de uma cidade e uma região.

Ao chegar à Estação de S. Bento, há uma vista desimpedida para a avenida da ponte. Passeios de uma largura que mais do que pouco habituais, devem ser inéditos na cidade. Passeios com real capacidade para acolher árvores de grande porte. Nem uma. Não é difícil adivinhar qual é o arquitecto responsável por mais este projecto.
Siza Vieira é sem qualquer favor um dos melhores arquitectos do planeta, um dos meus preferidos, com obras notáveis espalhadas por todo o lado. É uma profunda desilusão constatar que nada percebe da cidade como espaço público, não entende as pessoas e muito menos o verde como elemento arquitectónico.
Esta predilecção dos autarcas por Siza Vieira e Souto de Moura configura apenas uma situação de falta de ideias, imaginação atrofiada, desresponsabilização política e de se tentarem posicionar num patamar que julgam acima de qualquer crítica.
São dos melhores do Mundo, mas a sua escola é do século XX, estão ultrapassados e não sabem projectar as cidades. Os resultados estão à vista.

Uma resposta para“Ainda a Avenida dos Aliados”

  1. Manuela Soares

    Concordo em quase tudo consigo. A Avenida dos Aliados ficou uma vergonha. Aquele tanque, com ou sem água, não tem nenhum charme, nem se enquadra na lógica arquitectónica que o circunda. Chamar àquilo “espelho de água” como eu já ouvi… é adoçar muito a realidade. Para não falar nos muros que entaipam a entrada do metro… Quanto ao chão, nem réstia de variação…

    Não concordo é quando você diz que Siza Vieira «é sem qualquer favor um dos melhores arquitectos do planeta (…) com obras notáveis espalhadas por todo o lado» e mais adiante, sobre Siza e Souto Moura que «são dos melhores do Mundo»

    Se você acha, tal como escreveu, que estes dois arquitectos «estão ultrapassados e não sabem projectar as cidades» parece-me que dificilmente esta afirmação é compatível com a anterior.

    Porque ser “muito bom” arquitecto ao nível dos “melhores do mundo” é ter criatividade suficiente para ajustar qualquer obra consoante as necessidades simultaneamente estéticas e funcionais. É ser capaz de “ser igual a si mesmo” e ainda assim, surpreender quem o vê, usar novas propostas, ao mesmo tempo que demonstra conhecer e tomar em atenção as necessidades psicológicas dos utentes da arquitectura ou da cidade. A arquitectura é feita para ser usada. Em todos os sentidos.

    Projectar a cidade não é assim tão diferente de projectar o edifício. Ou há criatividade ou não há. Ou há sentido da globalidade do “habitar” ou não há. Quando há rigidez, aplicação de processos estafados, receitas envelhecidas, isso vai-se reflectir em todas as obras.

    Ora, novidade é coisa que você não encontra em Siza… A começar pela cor…

    Parece-me que o que você teve foi medo de atirar um pedra ao “mestre”. Você como muitos. Na minha óptica o rei vai nu. Ou, pelo menos, vai com o mesmo fato de sempre. Coçado… Se esse fato já foi brilhante, talvez… Se os remendos ficam dissimulados sob certos pontos de vista, pode acontecer…

    Por isso concordo consigo que se devia tornar a mexer na Avenida (já agora, Serralves também precisava de uns toques). Talvez um abaixo-assinado…

    Manuela Soares (arquitecta)

  2. José Rui Fernandes

    Cara Manuela, começando pelo fim, não tenho medo de nada, nem de coisa nenhuma, como diria o Sinhozinho Malta.
    Não é verdade que tenha tido medo de atirar uma pedra ao mestre (seria outra pedra). São opiniões, mas para mim são mesmo dos melhores arquitectos do Mundo. Não sou arquitecto, mas tenho vários livros, monografias ou não, que focam o trabalho dos meus preferidos e cá estão vários livros sobre a obra dos dois.
    Para não ir mais longe, a piscina de Barcelona que tem sido muito falada, parece-me vista daqui, mais uma obra maravilhosa de Siza Vieira.
    Também acho completamente impossível meter Serralves no saco da Avenida dos Aliados. Para mim, impossível.

    O que noto é uma coerência pela negativa nas praças, pracinhas e pracetas que os autarcas por esse país fora entregam aos dois arquitectos. E aí dou-lhe razão, até me custa a crer que sejam da autoria de dois dos melhores do Mundo. Acho inconcebível. A única explicação que encontro é a da industrialização do seu trabalho, feito em série como o velhinho Ford T. Os resultados são os que se vêem.

    Também concordo (e refiro-o) que sejam de uma escola bem enraizada no Séc. XX e um bocadinho cansada. Mas a questão da novidade talvez não seja assim tão importante. Dois exemplos situados no campo da arquitectura espectáculo (ou seja quase o oposto) — Gerry e Calatrava. As suas obras podem ser novidade e até ex-libris instantâneos para as localidades onde se implementaram, para os autores e olhando para o global da obra, a novidade também já não está lá.

    Já antes da Avenida estar pronta mantive uma discussão com os autores do Dias Com Árvores em que defendi que o grande culpado daquilo nem é o arquitecto, mas sim o cliente. Se o cliente tivesse uma ideia que fosse para a cidade e para a Avenida dos Aliados, isso tinha obrigatoriamente que estar consagrado no programa. Mas não — não há ideias, há carta branca, dinheiro aos montes e a colagem a um vulto.

    Não mudei muito de opinião, embora confesse que nada me preparou para o resultado. Nessa altura, ainda tinha uma secreta esperança e confiança no mestre.

  3. Manuela Soares

    Desculpe insistir mas é que, concordando consigo na generalidade, há aspectos em que a sua visão me parece ingénua.

    Eu vivo na área de Lisboa, e raras vezes vou ao Porto. Estive na Avenida dos Aliados por duas vezes depois da “reformulação” vi-a tanto quanto o tempo me permitiu e não foi muito. Foi pouco para fazer uma análise aprofundada. Haverão, decerto, aspectos que desconheço. Mas vi por lá “erros” que não têm a ver com questões de programa. O programa define as “coisas” que se necessitam não obriga aos aspectos formais. É claro que poderia constar do programa a definição de algumas atitudes/critérios a seguir.

    Desolação foi a palavra que você próprio empregou e que descreve perfeitamente a praça. Será difícil explicar-lhe em poucas palavras porque razão é essa a sensação. Um dos factores que ali falta é contraste. Seja contraste de formas, seja contraste de cores, seja contraste de textura/materiais. Falta também subtileza. Sem contraste nem subtileza – que se poderá definir como contrastes menos acentuados, menos evidentes ou mais inesperados – não fica muito que atraia o olhar.

    Além de que não existe uma demarcação visível da zona para os peões da dos carros. Tenho uma vaga lembrança de um degrauzito que mal se vê no meio das pedras. E que até é mau por razões de segurança. E falta noção de escala, ou seja, da correcta proporção que cada coisa (incluindo o grau de contraste) deve assumir para que o todo seja suficientemente variado sem que hajam elementos que entrem em conflito.

    E atente bem no dito “lago”. Sente-se lá ao pé e olhe bem. Pode ser que a sua vista se canse de não ver nada… É que no Parque das Nações, em Lisboa, há zonas com água, muito simples, mas muito mais interessantes. Isto não tem a ver com programa. Pelo contrário, poderia ter feito parte do programa a obrigação de manter a calçada portuguesa existente (que até contrastava mais com os edifícios).

    No geral parece-me que falta ali é imaginação e sensibilidade. Até porque é muito mais obrigação do arquitecto do que do cliente sentir o viver da praça. Cabe ao arquitecto também esclarecer e aconselhar o cliente, caso as opções não sejam as melhores. Eu não compreendo como é que as pessoas que lhe deram o projecto é que deviam ter as “ideias” para a cidade. Este é o trabalho do urbanista. Ao urbanista é que cabe ter “ideias” urbanísticas depois de ter estudado a cidade em questão sob vários pontos de vista.

    Se não houvesse «falta de ideias e (alguma) imaginação atrofiada» nos arquitectos a predilecção dos autarcas até seria de desejar.

    Eu já não pratico arquitectura há anos, pois dediquei-me sempre também a outra actividade. Não é a voz da inveja que me move… Também não é a ausência de conhecimento actualizado, pois os meus critérios de observação estão precisamente em consonância com as informações e preocupações muito recentes que me foram transmitidas na Faculdade de Arquitectura de Lisboa (outra obra de Siza e esta eu conheço bem demais…) ao longo de um mestrado. E há hoje em dia correntes de pensamento sobre arquitectura muito diferentes da linha seguida pelo Siza.

    O uso da cor não é já uma questão de gosto apenas. Há critérios com fundamento científico para a escolha da mesma. O branco não é a única cor possível nem é a melhor, nem é a cor mais adequada frequentemente. A ausência de textura não ajuda à leitura das formas, além de que a sua escassez sistemática contribui para a sensação de desolação.

    Os seres humanos desenvolveram-se olhando uma natureza em tudo rica em textura e onde a cor é a norma (à excepção dos pólos gelados). A nossa psicologia necessita de um apoio visual exterior consistente com os processos psico-fisiológicos que nos estruturam. Compare algumas visões do exterior branco de Serralves com a natureza envolvente e veja se descobre as diferenças… Ou olhe bem para as formas e cores na sua quinta, a terra, as pedras, e observe as características daquilo que acha bonito.

    Eu também não acho que Serralves seja tão grave quanto a Avenida. E, obviamente, não estamos falando de nenhum “pato bravo”. Há, inequivocamente, aspectos positivos, quanto mais não seja há uma receita que garante sempre alguns dividendos.

    O que custa é que pessoa tão premiada, já na década de 50 pintava de branco (Casa de Chá). Algumas opções que nessa época tivessem sido arrojadas, com o tempo deixaram de o ser. Por isso é que eu falei na necessidade de inovação.

    Também não posso deixar de verificar que há arquitectura muito interessante, às vezes onde menos se espera, de arquitectos menos conhecidos. Por isso eu penso que o Siza vive muito do nome e que a fama é uma bola de neve (assim como o dinheiro): quanto mais se tem mais se arranja.

    Felicidades para as suas plantas. Eu não faço jardinagem pela simples razão que não tenho nenhum jardim.

    Manuela Soares

  4. José Rui Fernandes

    Desculpe insistir mas é que, concordando consigo na generalidade, há aspectos em que a sua visão me parece ingénua.

    Agradeço. Reconheço que fui ingénuo, agora é como diz, concordamos na generalidade.

    Relativamente ao programa, se me lembro, eu referia-me ao facto da avenida ter três faixas por exemplo. Hoje há cidades a querer tirar o trânsito dos centros e zonas históricas, a ideia da Porto 2001, antiga e corrente câmara foi sempre em sentido contrário.
    A questão dos lugares para as pessoas estar, os jardins (não faltam extraordinárias soluções contemporâneas que em nada diminuiriam a “experiência Siza), etc. O que ali me parece que há é a mais completa carta branca para uma obra que saiu desinspirada.

    Claro que se o programa diz “espelho de água”, não cabe ao autarca defini-lo, se é rectângulo ou redondo… Mas, continuo a achar que tem responsabilidade de rejeitar quantas propostas forem necessárias, até o arquitecto também entender o que se pretende.
    Pela minha experiência, os arquitectos “são de gancho” e têm de o ser se querem fazer passar muitas das suas ideias pelos clientes (por muitos deles) e depois pelos empreiteiros; mas, essencialmente considero um trabalho em colaboração, onde o entendimento tem de existir.

    E quanto à calçada (acho que também fazia parte da discussão antiga), tinha obrigatoriamente que fazer parte do programa a sua manutenção. Por muito influente que seja o arquitecto, ao aceitar a obra já sabe que há ali limites. Isso não parte dos responsáveis da autarquia? Olhe, fosse a minha casa, Siza Vieira ou ilustre desconhecido, na calçada não mexiam. Para uma obra de qualidade, o cliente também tem de saber o que isso é (e possuir algumas, já agora).

    Há outro detalhe (não tão pequeno) que é a necessidade ou não de uma estação de metro no meio da Avenida dos Aliados a tão poucos metros da anterior e da seguinte… É uma opção de planeamente que não discuto porque não sei, mas também condicionou muito a Avenida e alguma destruição à superfície…

    Além de que não existe uma demarcação visível da zona para os peões da dos carros.

    Já amigos meus me disseram que se fartam de ver automobilistas a galgar o passeio à noite (sem consequências, a cidade não tem ninguém a partir das 20h). Essa é daquelas que realmente não tem defesa possível. As pessoas não vêem a transição da rua para o passeio.

    Eu já não pratico arquitectura há anos, pois dediquei-me sempre também a outra actividade. Não é a voz da inveja que me move…

    Entendo a necessidade de salientar isto, neste país de invejosos, mas garanto-lhe que nunca pensei ser o caso. A discussão sobre a Avenida é interessante, para mim está em aberto e gosto dos argumentos que apresenta.

    Eu gosto do branco de Serralves e do contraste com o parque. — Não estão em causa as diferenças, claro. Mas gosto do branco da obra, não me impedindo de gostar da variedade das cores da quinta.
    Não acho justo falar na “receita”. Dei-lhe dois exemplos que também têm a sua própria “receita” e produzem obras que eu gosto — embora no caso Gehry a tecnologia envolvida não seja de ignorar e no caso Calatrava os seus próprios conhecimentos de engenharia lhe permitam (acho eu) uma ginástica mental que outros não conseguiriam com base apenas em equipas multidisciplinares.

    Também não posso deixar de verificar que há arquitectura muito interessante, às vezes onde menos se espera, de arquitectos menos conhecidos.

    Eu acho que temos arquitectos ao nível do melhor que há no planeta — e não falo do Top 25. Ando encantadinho, mas questiono-me todos os dias como é possível que um país com os nossos arquitectos tenha a paisagem no estado deplorável da nossa (esta a mudar, mas mesmo muito lentamente). É outra discusão.

    Obrigado por ter passado por cá. Acho que toda a gente devia ter um jardim :) .

  5. Carvalho

    Não entrando nesta conversa, que lerei depois com mais tempo, como tive oportunidade de ler outras neste bolg, que me interessaram, gostava de deixar apenas uma palavra muito simples…
    Estive hà pouco tempo no Porto, e tive oportunidade de parar um pouco na parte alta da Avenida dos Aliados. Não foi de relance, estive ali um pouco a tentar perceber a paisagem. O sentimento foi o de profunda desolação, incompreensão, e alguma rejeição daquele espectáculo. Há alguma forma de tornar as alterações a uma cidade, vila ou aldeia, por direito, uma questão de discussão e decisão pública, um gesto democrático e participado. Se ainda não é, não estamos em democracia! Penso eu. COMO PODERIA SER?
    Um abraço.

  6. Manuela

    Reproduzi post nos Aliados (espero que não se importe JRF) e pus link para a troca de ideias nos comentários.

    PS. Mudar a Avenida, agora? Devem estar a “brincar”.

  7. José Rui Fernandes

    Ah, outra Manuela :) .

    Eu não me importo.

    Se mandasse nesta cidade, já praticamente só pensava nisso — como devolver os Aliados à cidade. Acho que aquilo assim não pode ficar.

  8. PPatrício

    Apanhei este post com algum atraso, mas vou a tempo por uma simples razão: vivo na Baixa. Não é que isso faça de mim um entendido, ou que me ajude nos argumentos ou que faça ter uma melhor perspectiva sobre a Baixa. No entanto, passo lá todos os dias e é óbvio: os Aliados metem dó.

    O Siza, com essa coisa tonta da cidade “de granito”, logo cinzenta, conseguiu uma avenida que é só isso e apenas isso: granito. Uma avenida bruta, como que a dizer, feita para uma terra de brutos ou a caminho disso. É o que o Siza deve achar, que o Porto nada merece nestes dias a não ser aquilo.

    E é verdade, em exclusivo: o tanque serve a rapaziada em dias de calor, nos outros dias serve mau cheiro a quem passa; as poucas cadeiras que lá estão [acrescentadas e acorrentadas] servem para a terceira idade bater devagarinho às portas da morte, a ver se elas se abrem e eles vão desta para melhor sem chatear ninguém; e a vista geral da coisa, privilegiada sem dúvida!, serve para quem está sentado nos gabinetes da Câmara.

    Quanto ao resto: flores e verde a sério?! nem pensar, calcam tudo em dia de festa ou de taça; boa iluminação? nada disso, consta que estão habituados à luz da vela; diferenças de passeio? era dar-lhes muita segurança; mais “paralelo”, mais ruído?! ninguém liga, ninguém ouve.

    O pior de tudo é que continuamos a achar que arquitectura é o mesmo que urbanismo e afins. E que os melhores do mundo numa coisa até o são nas outras. Nada mais errado.

    Atirar uma pedra ao Siza?! É complicado, são tantas as pedras no chão dos Aliados.

  9. Aliados- Em defesa da Avenida dos Aliados e da Praça da Liberdade

    Que pena não ter não termos encontrado estes Aliados antes, quando durante …quanto tempo… (um ano? a mim pareceu-me uma eternidade) me /nos sentimos ofendidos , ultrajados com a afronta, o descaramente com que “os melhores arquitectos” portugueses vilipendiavam um património que não lhes pertencia.

    Confesso que um dos sentimentos mais fortes que me moveu então foi mesmo o de uma vergonha imensa pelo que estava a ser feito. Sentia diariamente (e de um modo que até a mim própria me surpreendeu) tudo aquilo como uma obscena falta de respeito pela memória da cidade. Como era possível tanto descaramento e arrogância! Serem capazes de porem e disporem sem quererem saber, ignorando e menosprezando os milhares de portuenses que se manifestaram (através de abaixo-assinados) contra aquele tipo de intervenção. E muitos outros que nada disseram.

    Até podiam ter proposto esse projecto ou outro, mas daquele modo, sem quererem saber!!!!????

    Enfim: um ano para esquecer mas que ficou todo registado. A acção principal ainda não teve desfecho judicial. Não pedimos a reposição do que estava por respeito pelas pessoas que vivem na zona.

    Pelos vistos alguns nao hesitariam. Força pessoal. Agora ficava eu a assistir.
    Manuela

  10. José Rui Fernandes

    Manuela, Manuela…
    Na altura certa, não me associei a nada nem fui contra nada, porque acreditava no projecto e no arquitecto. E não estou a dizer que fui enganado ou coisa que o valha. Com o que conhecia e com a confiança que depositava em Siza Vieira, não assinava de cruz, mas assinava.

    Mas já não falamos disto? Para quem sempre defendeu que o projecto era mau, pode ser frustrante, mas eu não posso mudar o que sentia há um ano ou dois. Inclusivamente envolvi-me numa discussão com vocês no Dias Com Árvores em que se me lembro era dos poucos a defender a obra.

    Inclusivamente, achei que as críticas se deviam em grande parte ao fadinho português de denegrir o que é nosso e em particular bom (e não duvido ainda hoje que muitas das críticas devem ter sido nessa base).

    Que posso dizer mais? Lamento muito que a obra tenha saido tão fraca; juntando esta e outras obras do género concluí que os dois arquitectos em causa realmente não percebem nada desta questão do urbanismo que o Patrício tocou; também não percebem de paisagismo; olho agora com grande desconfiança para o nome de Siza Vieira e de Souto de Moura quando em causa está a cidade.

    Quanto ao presente, não planeio fazer nada ou propor alguma coisa. Mas seria favorável a gastar dinheiro (e não é dizer pouco, porque se há coisa que me tira do sério é esta sociedade do esbanjamento público). Mas não para repôr o que estava, apenas para salvar o que pode ser salvo — não me perguntem o quê, mas dar uma volta à Avenida de modo a torná-la, pelo menos, digna da cidade que a acolhe. — Sim, acho a obra má a esse ponto.

    Agora, propostas nesse sentido têm pernas para andar? Duvido, numa cidade que não tem dinheiro para mandar tocar um ceguinho.

  11. José Rui Fernandes

    Só mais uma nota…

    o descaramente com que “os melhores arquitectos” portugueses vilipendiavam um património que não lhes pertencia

    Nesta fase, acho que já se entendeu que o arquitecto não defendo, mas embora o património não fosse dele, foi contratado por quem de direito, eleito democraticamente pelo zé povo.
    Continuo a achar que a autarquia tem muitas responsabilidades. E nem sei se o contrato foi celebrado por esta ou a anterior. Para mim é indiferente. Não gostava do desgoverno PS da cidade e não gosto do desgoverno PSD.

  12. Miguel

    O arquitecto Siza é capaz de fazer coisas aberrantes. Ele NÂO É um dos melhores ARQUITECTOS portugueses.Pensem na porcaria que ele fez entre o Museu do Prado e o Rainha Sofia em Madrid.Com uns candeeirinhos manhosos ….feio feio .Fui na Páscoa a essa cidade e fiquei com vergonha.Não posso dizer que ele é um bom arquitecto depois do que tenho visto.

  13. Pedro

    Desta obra, o que podemos reconhecer como (consensualmente) positivo é… a recuperação dos antigos candeeiros…

    ;)

    PS: Fico à espera do texto mais elaborado! :)

  14. abel r. santos

    discussão engraçada sobre a Av. dos Aliados…..
    mas já viram a Marginal de Leça onde tudo aquilo que pode ser considerado “asneira” arquitectonica semelhante/identica se manifesta AMPLIADA ?

  15. José Rui Fernandes

    Marginal de Leça, de Matosinhos, Vila do Conde, Praça em Guimarães se não me engano… É uma série de obras sobre as quais pessoalmente tenho grandes dúvidas.

    PS: Fico à espera do texto mais elaborado! :)

    Nunca mais escrevo sobre a Avenida dos Aliados :) .

  16. Jorge Neves

    Não terá a ver com arquitectura mas a “ocupação” que nesta semana foi dada ao Largo Camões, em Lisboa, e a maneira como o espaço é aproveitado pelas pessoas, diz muito sobre o que é importante ter num espaço público de uma cidade.

  17. Uma Pedra da calçada antiga

    Desolação é o factor comum da grande maioria das opiniões exprimidas sobre esta “obra”, neste e em outros forums.

    O que nos resta é agir. (Facil de dizer, mas dificil de fazer). O conformismo não nos permitira de mostrar aos nossos netos a mais bela Praça do Porto (e do Mundo para algums), tal como ela era na nossa primeira noite de S. João armados de alho porro numa mão e de manjerico na outra…Ou no 1 de Maio de 1975…ou simplesmente de onde se partia de eléctrico para a Foz numa manhã de chuva et onde se voltava num fim de tarde ensoalhado…o azul do céu brilhava em cada pedra da calçada aquecida do sol poente… sem horizonte.

    Dêem-nos de volta a velha calçada…E vamos bater o pé!

    Um leitor de Fernando Pessoa

  18. Claudia Lima

    No ambito do doutoramento, a minha investigacao tem um “case study” sobre o Porto depois da Capital Europeia da Cultura (representacoes da cidade depois da mudanca) … Sei que o projecto da Avenida dos Aliados vem muito depois desse efemero evento que foi a ECC 2001, mas faz parte das grandes transformacoes fisicas da cidade apos o mesmo. Foi surpreendente, ao fazer uma busca rapida no Google, a quantidade de sites que apareceram com a polemica Avenida dos Aliados… tantas opinioes, discussoes – umas bem acessas e outra mais apagadas -, tanto sorri e quase chorei de rir a ler comentarios que se fazem ao projecto do nosso Siza, tanto pensei que cheguei a uma conclusao.

    Vivi muitos anos no Porto (e para la hei-de voltar) porque estava a estudar – no curso de arquitectura, sim a mal fadada arquitectura que muita gente aponta estar a ser a iconica maquina que destroi a cidade em nome do individualismo!!!
    Todos os dias passava pelos Aliados – avenida majestosa, um “vazio urbano” com uma envolvente construida de grande valor historico e estetico… palco de tantas celebracoes e sempre tao agitado… um vazio urbano sempre replecto! Esta avenida sempre suportou muitos movimentos de gentes, veiculos, comunicacao… Mas sempre a vi como um espaco que nao dignificava na plenitude a envolvente construida… nao apresentava uma imagem coesa, era um espaco com muito ruido fisico, quase impossivel de se olhar como uma espaco centralizador… pois! Era um “cheio urbano”!… Claro que se viam as gentes, sentadas nos bancos, nos jardins, a passear e a saborear o tumultuoso transito das horas de ponta… gentes desconhecidas a cruzarem-se neste espaco… A Avenida sempre esteve ligada a esta ideia de cruzamento fisico e mental.. um espaco de inter-cambio.
    Depois de anos sem estar no Porto… voltei de veraneio e olhei surpresa!!!!! Finalmente consegui ter uma imagem total do que sao os Aliados!! Ja tinha visto o projecto, mas realmente experienciar tamanha amplitude e pureza…foi gratificante. Bem, mais nao preciso de dizer em relacao ao que penso sobre este projecto. Penso que agora sim, temos um espaco central, aberto, que respira e deixa respirar a envolvente, os edificios ganham mais imponencia e visibilidade. Tornou-se num espaco que suporta varios usos e gerador de oportunidades…
    Penso que colocar alcunhas a estes e a outros, a projectos “da pedra” e a “tanques” nao deveria ser o caminho para discutir seriamente sobre fazer cidade, nem sobre arquitectura. E percepcoes individuais sao subjectivas demais para serem avaliadas… cada um tem o direito a pensar e a expressar-se, por isso esta e mais uma expressao do meu pensamento. Os Aliados tornaram-se num”a sala de visitas” contemporanea e europeia! Servem uma sociedade do seculo XIX … E nao poderemos esquecer nunca,que o espaco e uma producao social… as pessoas e que o fazem, por isso vamos fazer espaco!! Tragam as artes visuais, porque nao?!! Assim se faz espaco tambem… porque nao serao os bancos de jardim ou os canteiros que irao mudar muita coisa neste grande palco da cidade… Os Aliados nao morreram, foram ressuscitados!

    Obrigada por este espaco… Nao espero comentarios, nem espero que me pecam satisfacoes, pois como isto e um espaco publico… todos podemos ter voz nao e assim?
    Cumprimentos

  19. José Rui Fernandes

    Cara Claudia, começando pelo fim, isto não é um espaço público — é privado e apago frequentemente comentários que não se enquadram. O que não é o caso.

    Sobre a opinião que tem da Avenida dos Aliados, posso dizer-lhe que quanto mais olho, menos gosto — e mais uma vez repito que sou grande apreciador do trabalho de Siza Vieira (mais recentemente piscina em Barcelona ou Adega Maior).

    Mas já que fala do “tanque”, gostava de ler uma análise em “arquitectês” dessa bela peça de arquitectura aquática e das mesinhas e cadeirinhas que lá andam presas ao chão por correntes de bicicleta. Na minha opinião é mau e indefensável e não pode admirar-se que os leigos achem mau e indefensável e lhe chamem “tanque”. A mim, parece um tanque. E feio.

  20. Fernando Ranito

    Porque posso dispor de pouco tempo com a leitura, sempre curiosa, dos diversos Blogs que “por aí” proliferam, só há una dias, e na pista de elementos sobre o tema CALÇADA PORTUGUESA” aqui vim parar.
    Li tudo e achei muito gratificante não me sentir sozinho no desgosto, se me permitem usar este tom, com que, pela primeira vez e após a “destruição” concluída,vi a Avenida dos Aliados, onde trabalhei durante 30 anos, num gabinete com uma varanda aberta, do quarto andar do prédio da Garantia (agora, da AXA),para aquele espaço, que era um Jardim, no centro da cidade.
    Hoje o Sr arquitecto Siza Vieira e o Amigo, transformaram esse Jardim, que era a Sala de visitas do Porto, no CAMPO DA FEIRA DA ALDEIA DA PONTE NOVA !!!
    Tudo é ridículo, desde o tanque às cadeiras de esplanada reles, presas ao chão com aqueles cadeados incríveis, àquela falta de harmonia entre os bancos antigos, que parecem colocados, como quem joga aos dados: calha o que a sorte ditar… Tudo isso, e um vazio tremendo e doloroso para quem olha do cimo da Avenida para a Praça da Liberdade.
    Desolação, é a palavra mais repetida nos textos que compõem este grito de revolta contra a prepotência e a impunidade com que se mexe em algo que pertence a centenas de milhares de cidadãos, que não foram consultados nem sequer informados, da deslapidação a aque se iria proceder.
    Hoje passado muito tempo sobre o atentado aos direitos dos habitantes do Porto, penso que esse grito, que tem ecoado, por muitos outros blogs e, – poucos -, artigos de jornal deve ser aamplificado e levado a quem de direito, por quem iniciou este debate, aqui, nesta página da internet.Se eu tivesse algum préstimo, não delegaria essa tarefe noutra pessoa, mas já não valho nada, pois já sou velho, e os velhos, são um estorvo para os actuais donos do Mundo…
    A não ser a Estação do Metro, tudo se pode refazer e dar a côr a a vida que a Avenida dos Aliados sempre teve para dar aos olhos dos que por ela passavam. E acabar com esse escândalo das barracas de comes-e-bebes e esses carrinhos de feira popular. Acabar com o CAMPO DA FEIRA E REFAZER A AVENIDA DOS ALIADOS

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