“Todo o investimento que requer subsídios ou é prematuro ou nunca será viável”1

O João Miranda do Blasfémias, descobriu uma fórmula e então utiliza essa fórmula para tudo. Do aquecimento global aos restaurantes chineses, passando recentemente pela energia eólica. Um misto de afirmações supostamente chocantes para os defensores da tese contrária (qualquer assunto), com obviosidades, vacuidades, gráficos parciais, egoísmo não assumido e muito menos declarado e umas pitadas de ironia. Um dos alvos preferidos do João Miranda é o ambiente no sentido mais lato possível e não perde uma oportunidade de criticar tudo o que possa ser criticado.
Agora é apropriadamente a energia eólica, porventura a encarnação mais parecida com um moinho de vento que modernamente se consegue encontrar.

Outra vez os mesmos argumentos passados com o velhinho papel químico. Sempre os mesmos. O João Miranda, com a formação que tem ainda não conseguiu perceber que se não fossem os subsídios, hoje não andava de automóvel e que o mal não está no subsídio em si. Está permanentemente de má fé e para ele a “big picture” tem os limites serrilhados de um selo dos correios.

Só discute subsídios ambientalmente meritórios. Os subsídios ao petróleo (Union of Concerned Scientists), por exemplo, não discute. Subsídios de George W. Bush, não discute (BBC). Nunca. São subsídios sempre fora da serrilha.

Para justificar mais uma das suas teses, publica um gráfico. Não é verdade que “As eólicas são uma aposta de apenas 3 países”, mas até podiam ser 30 que não justificaria o investimento cá, até aí de acordo. É só um exemplo da técnica cravo e ferradura que o João Miranda utiliza para tudo.
Em Portugal pecou-se pelo costume, investimos tarde e apenas do ponto de vista do consumo de tecnologia e material estrangeiro. Não se investiu a tempo e horas em investigação e desenvolvimento (a Dinamarca investiu em 1979, nem vale a pena falar do que se passava em Portugal nessa época) numa área onde temos potencialidades (energias alternativas) no sentido em que salvo algumas excepções, todos partiram em condições iguais.
Mas, não esquecendo os três países da tese Miranda que apostam na energia eólica (Dinamarca, Espanha e Alemanha):

A capacidade eólica instalada nos EUA disparou 45% em 2007 (AWEA)
Energia eólica instalada no Texas (State Energy Conservation Office).
A GE não consegue produzir turbinas suficientemente depressa, as encomendas ascendem a 12 mil milhões (CNet).
A Irlanda não deseja ficar para trás (CNet).
A China já é o quinto maior produtor com 6GW instalados (Renewable Energy World).
Produção mundial de energia eólica atinge 100.000 MW (Earth Policy Institute).

Os comentários, de onde retirei o título são uma fonte de verdadeiro entretenimento (apesar de desde a última vez que li o Blasfémias há um ou dois anos, terem evoluído muito em termos de civilidade). A cada passo, o autor, que também evoluiu muito nas suas respostas (antigamente mandava as atoardas e desaparecia para parte incerta, certamente para exercitar a pena nas próximas), lembra-se de frases extraordinárias. Diz que “não faz sentido adoptar uma tecnologia em grande escala numa fase precoce do seu desenvolvimento”, correcto. A energia eólica foi teorizada por Albert Betz2 como tendo uma eficiência máxima 59,3%. Algumas turbinas de hoje têm uma eficiência de 50%3. Precoce, meu caro, foi ter atingido tal eficiência em tão pouco tempo e muito melhor não irá ficar.

A energia do vento é já mais barata que a energia convencional no Texas e no Colorado4. Isto de alguma forma ofende a sensibilidade do João Miranda e a sua sagacidade que se traduz na sua imensa capacidade de detectar maus negócios para toda a gente. Os EUA, são os segundos produtores mundiais de energia eólica5 mas o gráfico mostra apenas uns pálidos 0,8% do consumo total pelo motivo óbvio que são também consumidores gargantuanos de todo o tipo de energia. Mas, só lá no Centro do Universo Miranda, é que a energia produzida e consumida vai crescer até ao infinito.

Não podia terminar um comentário destes sem a imprescindível visita ao Junk Science. Surpresa das surpresas, o prestigiado site é de alguma forma contra a energia eólica, embora não possa argumentar contra “um negócio que cresce 25% ao ano”. Isto em 2000.
Um dos riscos da energia eólica, segundo Milloy é que “Wind farm siting depends on the long-term forecasting of wind patterns — but climate is always changing”. Vindo de um negacionista das alterações climáticas, é divertido. Mas o homem anda desanimado com o candidato McCain, considera-o um autêntico embaraço em termos climáticos. Deve ser tema para o “blogue de referência” em breve.

Voltando ao título, qualquer pessoa de boa fé se consegue lembrar de inúmeras actividades que são hoje lucrativas e contribuintes líquidos para a riqueza de um país, mas que foram subsidiadas numa determinada fase do seu desenvolvimento.

O João Miranda seria divertido se não cansasse de tão repetitivo. E reparem na semelhança do título e de mais esta frase visionária de Brian O’Connell, republicada no Junk Science, “Investors should beware of any business that relies on subsidies to exist, particularly for an industry [a energia eólica] that is failing to deliver on its promises”. Entendido.

1 Comentário de João Miranda ao seu próprio texto. Continua a ser o melhor intérprete do que escreve.
2 Betz’s Law (Wikipedia).
3 The Economist.
4 Earth Policy Institute.
5 Wikipedia.

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