Futuro na mão

iPad
Todo? Não, mas uma parte não tenho dúvida. Um amigo fez-me o favor de trazer uma iPad dos EUA há uns dois meses e apesar de atravessar uma fase deficiente em tempo livre, tenho tentado descobrir para que serve este novo gizmo.
Fisicamente é um objecto muito bem construído, praticamente perfeito. Gosto disso. Mais pequeno que o que parece na internet. Mas mais pesado que o seu tamanho possa sugerir. 680g não parece muito, mas só numa mão ao fim de um tempo cansa. A margem preta para segurar também é mais pequena que o que é sugerido pelas fotografias e as críticas. Sendo um ecrã totalmente táctil, a margem é essencial e está no limite. Não se verão tabletes com margens menores quando começarem a sair as imitações. As críticas à margem são estúpidas.

Não me vou alongar em análises que já foram feitas e refeitas dez vezes por toda a internet. É muito rápida a arrancar, liga-se instantaneamente, o ecrã é capaz de reproduzir imagens com uma qualidade excelente e a bateria numa utilização que não seja só à base de vídeo e jogos, dura horas e horas. Muitos dias sem ligar o cabo é perfeitamente possível.

Na prática, o primeiro contratempo surgiu quando me foi vedado o acesso à App Store (a loja das aplicações) que é a alma da iPad. Só estava disponível para os EUA o que foi péssima notícia, porque o primeiro objectivo que tenho para a iPad (estudar formatos de livros digitais) passa obrigatoriamente pela App Store. A única forma de contornar esta situação é chegar ao eBay e comprar um Gift card norte-americano, tipicamente por mais 20% que o seu valor nominal. O vendedor envia-nos o código por mail e esse código permite abrir uma conta.
No entanto é bom ter em consideração que as aplicações compradas por este meio ficam associadas exclusivamente a esta conta. Uma das críticas justas a este sistema é que não podemos dar ou vender aquilo que compramos. Apesar disso, sincronizar a iPad com um Mac, faz conviver conteúdo da conta portuguesa com conteúdo da conta americana — cheguei a temer que fosse um ou outro. As actualizações têm que ser efectuadas na loja de origem de cada app, o que é maçador.

Pelo exposto, além de umas aplicações sem custos, não quero estar a gastar demasiado dinheiro em aplicações da loja americana. As de produtividade como OmniGraffle, Numbers, Pages ou Keynote, ficam para quando abrir a App Store nacional (pelo andar da carruagem, a iPad talvez cá chegue antes do Natal).

Tendemos a esquecer várias coisas: a iPad é um conceito que até agora ninguém implementou de forma satisfatória. Além disso, é a primeira versão. Pelo que tenho visto diria que serve ou vai servir para praticamente tudo. Já tenho visto umas utilizações surpreendentes, como o pianista Lang Lang num concerto de música clássica (YouTube), fora do meu alcance.

A primeira coisa que se nota imediatamente é a praticamente ausência de curva de aprendizagem, facto demonstrado aqui em casa pelo Pedro (5 anos) e Luisa (7 anos).
Na fase em que está, não me serve para trabalhar no sentido de criar alguma coisa. Mas serve-me para trabalhar como plataforma de apoio — para consultar referência na internet sem deixar o que estou a fazer no Mac, receber correio, fazer contas… estão a ver o quadro. Também já utilizava o iPhone desse modo. Neste caso, para coisas como e-mail, ainda o Mac não acordou e já eu estou a ler o segundo ou terceiro e-mail na iPad. Para estas pequenas coisas é perfeita.
Escrever para mim é fácil e rápido no teclado táctil, mas o copy/paste apesar de ser uma obra de arte de implementação, não consegue concorrer com o rato e teclado. Um post de links como os que costumo fazer, demora-me significativamente mais tempo na iPad.

Tenho praticamente todos os leitores de livros de texto e de banda desenhada que me interessam (os outros ainda não foram lançados) e não vou entrar em detalhes. Numa palavra: banda desenhada é para o horrível; livros menos mal; livros técnicos não está mal; revistas como a muito falada implementação da Popular Science ou a Wired, não me convenceram totalmente. Mas como disse antes, tratam-se de primeiras tentativas de fazer algo credível e nesse aspecto (credibilidade) julgo que vão no caminho certo.

Onde estou a utilizar a iPad incessantemente é no acesso à internet. É surpreendente a diferença que é ter a página na mão — é mesmo isso —, poder tocar para abrir os links e ler numa posição que para nós, gente que começou a ler livros desde cedo, é no fundo, natural. Essa experiência, para mim, vale por si só a existência da iPad. De alguma forma impede-me de fazer apenas scan, leio mais e não abro páginas atrás de páginas. A internet deve ter sido feita para a iPad.

Após a última frase, devo alertar que a iPad não foi feita para a internet com Flash. Não me faz falta. Nos outros equipamentos, tem sido mais fácil falar que implementar… parece que os smartphones se tornam lentos e pouco espertos, a bateria rápida. Rápida a descarregar, entenda-se. Eles lá sabem. Há muitos anos que o Flash é lixo informático nos Macs e a Adobe em geral não tem sido muito melhor (Maniacal Rage, este é genial). Tudo com que a Apple lhes atirar é bem empregue.

Para ser justo, a Adobe tem uma pequena e óptima aplicação para iPad chamada Ideas e que pode ser um óptimo indicador que vão finalmente portar-se à altura da sua história, mal acabem de andar a chorar pelos cantos por causa do Flash. Serve para desenhar de uma forma simples e é um sucesso com as crianças.

No campo da publicação digital, o que falta neste momento é uma aplicação que agregue tudo como se fosse uma prateleira virtual. No presente, cada revista tem a sua aplicação. Se acabarmos com dezenas de revistas, é um igual número de aplicações. Um livro que compre na Amazon, leio no Kindle (refiro-me à app para iPad). Se comprar o livro na Apple, leio no iBooks. Com a banda desenhada o mesmo, já há uma série de plataformas (aplicações na iPad) incompatíveis entre si que obrigam os livros a ficar lá, na sua plataforma de origem. Para mim isso não serve e a minha esperança é que não sirva para ninguém a partir de certo ponto.

Em pouco tempo tornou-se um objecto do nosso dia a dia. Todos a utilizamos, menos o Pedro que só tem autorização para jogos ao fim de semana. Como tecnologia, é o mais próximo que alguma vez estive da ficção científica tornada realidade, se bem que a iPad vive muito da internet e essa foi uma coisa que eu tenha conhecimento nunca foi prevista ou imaginada. De certa forma, estamos numa realidade que já ultrapassou em muito a ficção.

Uma resposta para“Futuro na mão”

  1. José Rui Fernandes

    Por acaso é :) . E se houver fotografias aparece um ícone em forma de flor que tocando transforma a coisa numa daquelas molduras electrónicas (mas com qualidade infinitamente melhor…).

  2. Nunca deixei | Quinta do Sargaçal

    […] em que eu finalmente começo a sentir-me distanciar da tecnologia. O iPad foi uma antevisão, depois de um certo entusiasmo inicial, a minha opinião mudou bastante — não globalmente (continuo a achar um dispositivo válido, […]

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