Skyfall (2012) (65) +

Realizado por Sam Mendes.

3 Estrelas

The Naked City (1948) (67)

Realizado por Jules Dassin.

4 Estrelas e meia

Star Wars: The Force Awakens (68)

Realizado por J. J. Abrams (depois desta miséria, conhecido por aqui como Jar Jar Abrams). Três estrelas pelo universo, as naves e as personagens antigas. O resto é uma cópia a pantógrafo que como se sabe sai sempre pior que o original, com figurinhas secundárias com umas habilidades que nem os Jedi nos seus melhores momentos teriam. Corrijam-me se estou enganado, mas o Obi-Wan Kenobi teve uma dificuldade bestial em derrotar o Darth Vader (aliás foi derrotado). O seu jovem discípulo Luke Skywalker, mesmo depois de treino intenso, só apanhou no trombil. Neste filme, dois toninhos que nunca tinham visto um lightsaber na vida, dão uma valente coça ao novo discípulo do “dark side” Kylo Ren, que só não é morto pela sucateira (não ia inventar uma cena destas), porque o planeta se desfaz debaixo dos pés deles. Note-se, um Kylo Ren, que no início, só com o movimento da mão pára no ar um disparo de blaster (algo que nem o Darth Vader imaginou). Destes filmes não espero coerência com a lei da gravidade, ou com o mundo em que vivemos, mas suponho que seja pedir muito alguma coerência com o que se acabou de ver minutos antes — e que suponho, 99% dos espectadores (e não espetadores, que aqui não se espeta nada) já terá esquecido na cena seguinte.
Esta saga Star Wars, convenhamos, teve dois filmes dignos desse nome — o primeiro e o segundo, sendo O Império Contra-ataca, o melhor. O resto é fraco, mas tem algo de atraente, os planetas, as naves, as personagens, a criatividade. Este é o pior dos sete, nem o do saudoso Jar Jar Binks é tão mau. Esse, é mau essencialmente graças ao pobre Jar Jar, mas o Universo ganhou elementos extraordinários: O planeta Naboo, naves incríveis — os robots da Trade Federation são triunfos da ficção científica. Aqui, até o set design é praticamente inexistente, limitando-se a reciclar as naves antigas, a apresentar duas ou três novas que já foram esquecidas e o robot BB-8 (tecnologicamente incrível para o nosso mundo, mas medíocre como robot do “melhor piloto da galáxia”).
Por fim, eu cada vez que vou ao cinema, não tenho que levar com os problemas da sociedade americana e as importantes mensagens contidas nestes filmecos. Um dos personagens principais é negro? Os meus parabéns, já me esqueci do nome dele. Até a minha filha que tem 13 anos disse que é exactamente o tipo de actor que a Disney contrata — meio aparvalhado, de piadinha fácil e sem graça nenhuma. Como parte do Império (ou da First Order) não tem réstea de credibilidade. Compare-se com personagens como Lando Calrissian ou Mace Windu. Há mais credibilidade na máscara do Boba Fett (que aparentemente também se revelou de uma minoria étnica) que neste filme inteiro.
Concluo a cada mau filme que passa que já não sou criança e ressinto esta infantilização do cinema. Filmes que não sejam classificados para 12 anos afundam-se nas bilheteiras e esta mediania assustadora provoca a loucura Mundial — e estou aqui a fazer uma vénia ao Jar Jar Abrams e à Disney pela saudável facturação apresentada e para a qual contribui com quatro bilhetes. Os adultos já precisam de um bom filme de ficção científica com o seu próprio universo credível, algo como o Blade Runner, que não seja arruinado por Hollywood.

3 Estrelas

They Live by Night (1948) (70)

Realizado por Nicholas Ray.

3 Estrelas e meia

Tangerine (2015) (71)

Realizado por Sean Baker. Este filme tem uma particularidade: Foi todo filmado com iPhones 5s.

3 Estrelas e meia

Uma resposta para“Skyfall (2012) (65) +”

  1. Daniel Carrapa

    Meu caro José, só tu me fazes escrever longos comentários na internet, e prepara-te, que este vai ser longo. Como deves adivinhar, venho aqui fazer a defesa do novo Star Wars, que achei um filme galacticamente fixe!

    NOTA PRÉVIA PARA OS OUTROS LEITORES – ESTE TEXTO VAI TER SPOILERS, NÃO LEIAM SE NÃO VIRAM O FILME STAR WARS THE FORCE AWAKENS, PFF.

    Uma nota prévia. É verdade que aprendi a não confiar inteiramente nos meus entusiasmos. Também achei o Avatar o máximo, o três-dê e as luzinhas às cores, avaliação que não resistiu a uma reflexão mais crítica que só chegou depois. Mas neste caso, acho que temos saga a valer. Por isso cá vai.

    Jar Jar Abrams. Ok, essa passa, porque tem piada. Mas vamos ao resto.

    Dizez tu que dois toninhos que nunca viram um sabre laser na vida deram cabo do Kylo Ren. Ora não é bem assim. Primeiro, o Kylo Ren não é ainda um Sith. É um aprendiz. Poderoso, é certo. Mas várias coisas acontecem nessa sequência.

    Primeiro, Kylo Ren acha que matar o “coiso” vai torná-lo mais forte. Mas, ao fazê-lo, acaba por sentir-se fragilizado. Isso não é dito no filme, mas está na novelização (que eu não li, mas sei que é assim). Kylo Ren é uma personagem trágica – provavelmente nem é o vilão desta trilogia – balançando em direcção ao lado negro, mas que está ainda em conflito interno. O que tem efeito no seu poder.

    Depois, é imediatamente atingido por uma rajada de bowcaster do Chewie. O filme mostrou-nos já que o bowcaster é uma arma poderosa. Kylo resiste, devido ao seu poder no uso da Força, mas é atingido e fica ferido. Apenas esse facto justifica que Finn tenha resistido algum tempo na luta com Kylo, acabando no entanto por sucumbir. Depois vem o “main event”, o confronto final.

    Presumiste que Rey nunca viu um lightsaber na vida. Mas será verdade? Sabemos que Rey sabe lutar com um bastão. Mas sabemos também que há algo escondido no passado de Rey, de quando criança, antes de ser abandonada em Jakku.
    Há muitas teorias no ar, muita especulação. Mas acredita-se que Rey poderá ser filha de Luke – porque ela é extremamente sensível á força – e que poderá ter tido treino em criança. Sabemos que os padawans eram treinados de muito novos, e Rey poderá sido uma das alunas de Luke.

    Quando as coisas correram mal – porque Kylo se revoltou, manipulado por Snoke (e quem é Snoke? Também não sabemos ainda) – Rey terá sido salva e levada para longe. Por Luke, ou por alguém, sem Luke saber. A verdade é que Rey estava em Jakku sob o olhar de Lor San Tekka (Max Von Sydow), ou seja, não era uma sucateira qualquer.

    Rey consegue combater Kylo Ren porque (1) é especialmente dotada no uso da Força, provavelmente filha de Luke Skywalker; (2) porque teve treino em criança, mesmo que não se recorde (terá sido apagada a sua memória por algum truque Jedi?); (3) e porque Kylo Ren estava fragilizado, por ter sido ferido, e por ter ficado abalado com a morte do “coiso”.

    Faz mais sentido?

    Dito isto, se eu puser os meus óculos do chato também consigo ver aqui e ali coincidências, implausibilidades. Que Han tenha voltado a ser um smuggler, é um pouco forçado. Ou que encontre tão depressa a Millennium Falcon – claramente um daqueles passos largos de plot para pôr a acção a mexer.

    Pior foi a magnífica Captain Phasma, a gloriosa Gwendoline Christie, a sucumbir às ordens de Han e Finn para desligar o escudo da estação. No meu “canon” mental, deve-se ao facto de Phasma ter sofrido uma ligeira concussão após o “heavy charge” do Chewbacca. Só assim, um pouco combalida das ideias, é que a líder dos stormtroopers aceitaria seguir ordens dos inimigos de forma tão dócil.
    Claro que desligar o escudo numa estação daquelas devia ser um procedimento com alta segurança, com dois ou três superiores e códigos secretos, sei lá o quê, não uma coisa tão simples como ir a um terminal do computador, ir a “settings”, “shield options”, “off”… lol!

    Dito isto, o que me parece é que os méritos do filme são largamente superiores às pequenas fragilidades pontuais. Segue o “template” do Star Wars original em demasia? Talvez. Mas é verdade que este é um filme que tenta apelar a três gerações de espectadores. E, na minha opinião, consegue-o.
    É respeitoso com as personagens antigas. E introduz uma galeria de novas personagens de que eu gostei mesmo muito. A Rey, o Finn (tu não digas mal do Boyega, o gajo é maravilhoso), o Poe, o BB-8… E o Kylo Ren, opá, eu adorei o Kylo Ren.

    Espero que este feedback te ajude a recarregar os midiclorianos e possas dar uma segunda oportunidade a este The Force Awakens. Para mim, quatro estrelas!

    Abraço.

  2. José Rui

    Ah ah, já sabia!
    Vou começar por dizer duas coisas: Eu gostei do BB-8, é uma cópia arredondada do R2-D2, mas gostei. E contra a opinião de toda a gente que gostou do filme (és a excepção), gostei do Kylo Ren. Gosto da entoação dele com máscara e gosto da escolha do actor sem máscara. Acho que para o personagem “pussy” que pretendem, é mesmo aquilo.

    De resto o que dizes não faz sentido nenhum, nem à luz do próprio filme, nem à luz da saga, que como se sabe não é propriamente conhecida por respeitar os limites físicos das coisas e dos personagens. O ex-Stormtrooper toninho tinha uma patente igual ou parecida a praça, reco, soldado raso, mas além de ser bom de light saber, o homem monta no Tie Fighter e é vê-lo a arrumar os Tie Fighters inimigos com pilotos altamente treinados; o próprio melhor piloto da galáxia, nunca tinha pilotado um Tie Fighter e é o que se vê… uma patetice indecente. É tudo? Não, o toninho, entra na Millennium Falcon e arrasa nos blasters. Nem o Luke e o Han eram tão bons. Para Stormtrooper, geralmente fracos, caem como tordos, este saiu um prodígio. E diz piadinhas. E faz cara de parvo. É tudo? Não. O Stormtrooper, um soldado raso de primeira ordem, sabe mais sobre a “arma” que a General Leia. Não sei a palavra utilizada, mas traduziram como “saneamento”, para Stormtrooper que limpava os esgotos, o que ele sabe enche literalmente bibliotecas. Como personagem, até o Jar Jar é mais credível.

    A Millenium Falcon, já no primeiro filme era considerada sucata, neste foi parar ao sítio certo, um sucateiro. Mas, eis que fizeram “melhoramentos” (ou “melhoramentes”, como diz o treinador do Sporting), todos reles. Mas, a sucata que falhava nas alturas cruciais, ou pelo menos tinha uns soluços, neste filme? Sai de uma nave à velocidade da luz, à primeira! E entra na atmosfera de um planeta à velocidade da luz, à primeira! E a Rey? O treino foi óptimo, porque sabe mais da Millennium Falcon que o próprio Han Solo.

    Voltando a um Kylo Ren ferido, pelo que se viu antes no próprio filme ele com dois dedos colocava os dois toninhos em cima de um pinheiro, sem lhes tocar.

    A teoria da Rey filha do Luke é óbvia, ou padawan, alguma coisa irá explicar esta miséria, provavelmente com muito mais miséria, mas é ao que reduziram o Star Wars (e não é de hoje, mas era compensado com planetas, naves incríveis e uma imaginação prodigiosa). O Jar Jar Abrams é outro que nunca viu um cliché que não tivesse gostado. O Boyega é uma miséria incalculável, só entendo à luz da sociedade americana, mais as suas “importantes mensagens” (por incrível coincidência, é a primeira imagem que se vê no primeiro trailer, o Boyega a fazer cara de parvo).

    A personagem dos óculos dona da imitação da cantina… Jesus Cristo. Tiraram de um filme Disney falhado? Eu pego num personagem secundário como o Sebulba, e coitada da personagem dos óculos. Já que falo do Sebulba, compara o design dos Podracers com a espécie sei lá de quê do speeder da sucateira… É isto a imaginação prodigiosa?

    Desligar o escudo (onde já vi *mais* isso?), super-fácil! O ex-Stormtrooper toninho sabia. Aliás esse indivíduo, para Stormtrooper nem era mau, porque os outros caem como moscas (ou será como tordos?), pena que seja um miserável traidor. Mas, como viste, o Kylo Ren topou-o logo no início e nada fez. São tantos os buracos que nem queijo tem.

    Por falar em Kylo Ren… diz o coitadinho que quer acabar o trabalho do avô? Então o avô não passou para o nosso lado? Ou então, como já dizem por aí, matar o pai e tudo o resto, não passa de um incrível plano para se aproximar do imperador e matá-lo — sendo esse o verdadeiro trabalho do Darth Vader que ficou por fazer, acabar com os Siths. O filme faz tão pouco sentido e é tão mau, que as teorias todas e as inversas encaixam em qualquer lado.

    Já mencionei a destruição da República? Então tantos planetas a anos de luz uns dos outros, são vistos a ser destruídos noutro planeta também a anos de luz? Aquele zé pagode a olhar para o céu horrorizado. Eu digo-te, por esta altura, já eu próprio estava bastante horrorizado. Controlado, claro, estava com crianças (as minhas) e não queria ser eu a dizer-lhes que o Natal estava estragado.

    O querer agradar a três gerações é o pior que se pode fazer ao cinema. É a pedra filosofal que Hollywood procura a cada aguada que mete cá fora. Não querem mais nada. Se agradam a três gerações, pagantes, ficam todos contentinhos com eles mesmos. A minha única consolação é que imagino o Walt Disney às voltas no seu tubo criogénico.

    O que aconteceu aqui foi a Disney ter comprado os direitos e querer rentabilizá-los. Se vai bater todos os recordes sem criar um único planeta novo, uma única nave de jeito, personagens (ainda mais) superficiais e um argumento sacado da saga, não ia gastar dinheiro a fazê-lo. E eu como disse, estou aqui a fazer vénias atrás de vénias, de cada vez que chega mais um recorde batido. E diz que ainda falta a China!

    Eu só comentei o Star Wars porque queria mesmo gostar. O filme é de uma estrela, as outras duas são para a Leia, Han, Chewie e Luke, a Millennium Falcon, Tie-fighters e X-wings (eh lá, mudaram-lhes a cor!).

  3. Daniel Carrapa

    Li com atenção. E deixo a contra-resposta. Não é um exercício fácil. Nem faz sentido argumentar ponto a ponto, de tal forma te atiraste para o “dark side”…

    O primeiro Star Wars que vi no cinema foi O Regresso de Jedi. Cinema Condes. 1983. Tinha dez anos. Aquilo foi das coisas mais fantásticas e memoráveis que vi numa sala de cinema. Os outros dois capítulos só os vi mais tarde na televisão, porque se bem me lembro o VHS e os clubes de vídeo só se popularizaram depois. Claro que já tinha lido as novelizações dos três filmes, editadas pela Europa-América, com aquelas capas sacadas do filme e que incluiam algumas fotografias a cores no interior. Para um pré-adolescente, aquilo era do mais fixe que havia.

    Passaram-se mais de trinta anos. E com isso já não vemos as coisas da mesma maneira, nem vemos as mesmas coisas. Aquela ingenuidade, aquele olhar completamente puro que caía para dentro do filme como quem estava a vivê-lo,já não é o mesmo. Hoje já damos por nós ocasionalmente a pensar “olha que bela composição conceptual”, “que plano-sequência fantástico”, “que excelente uso da luz”.

    Mas também não devemos ir para a feira popular com a mesma atitude com que se vai para um museu. Star Wars é space opera, é aventura, fantasia. Eu vi muito disso neste Despertar da Força. O Finn tem muita pontaria? E a Maz Kanata é um pouco abonecada e tem olhos fofinhos. So what?! Eu gostei.

    Repara que com isto não estou a dizer que não tens razão. Vimos o filme de maneiras diferentes, é certo, e é tão só isso. As tuas “queixas” fazem-me lembrar a análise do Michael Heilemann – blogger do mítico Binary Bonsai – na sua página dedicada ao Star Wars chamada Kitbashed. Pesquisa e lê a “review”, que sendo positiva, tem muitos argumentos críticos com que deves identificar-te.

    Penso que vou continuar a gostar deste TFA, mesmo após múltiplas visualizações. Devolveu-me o entusiasmo pela saga e quero saber muito mais do passado e do futuro destas personagens. Mas talvez naquilo em que tenhas mais razão, é no facto de serem filmes extremamente calculistas.

    O mesmo diria de Spectre, para mim muito mais criticável. Mas com o mesmo calculismo, filme de produção. Filmes onde estão lá as peças todas. Magnífica construção visual, cenografia, iluminação, fotografia. Grandes actores, boa representação e tensão dramática. Boa intermediação entre confrontos de representação e confrontos de acção. Tudo para ser perfeito. E tudo se desmorona por essa coisa tão simples: o “plot”. Um enredo débil, colado com cuspo, que se desmorona perante um olhar minimamente crítico.

    Parece-me apenas que no caso do Star Wars houve vontade de fazer um bom filme, de contar uma boa história, de relançar uma mitologia. E, claro, por detrás vem uma monumental máquina de promoção e marketing. Mas isso – mesmo a meia hora de anúncios que temos de ver antes do filme começar – não é o filme.

    E é isto. Espero ter contribuido com alguma “food for thought”. Abraço e bons filmes.

    Fly casual!

  4. José Rui

    Tu foste atraído para o “dark side”… :D até o George “volta estás perdoado” Lucas, já chama à Disney esclavagistas.

    Tocas num ponto importante e que infelizmente não se limita à idade que tínhamos e à idade que temos — principalmente eu, pelos vistos (mas ok, comecei por dizer que já não sou criança e é um facto, mas fui durante mais de 40 anos). Para nós, para além da idade, o cinema era magia autêntica. Muitos anos depois, eu lembro-me de ter visto um documentário sobre o Star Wars e aquilo foi tão fascinante, ou mais, que o filme. Lembro-me de discutir com os meus amigos o enorme salto que os efeitos especiais deram do IV para o V. Hoje? Valha-me Deus… É um massacre inacreditável, de trailers, features, featurettes, bonecada (já com sons e frases que ainda não ouvimos no cinema sequer), plástico chinês, laranjas BB-8 e frascos de “toppings” em forma de C3PO e R2-D2… recebi ontem na livraria (estou a falar contra mim, como calculas), formas “Stormtrooper” para ovos cozidos. Tens razão, não é o filme, mas confesso que já estava vagamente nauseado muito antes do filme começar e a malta da nossa idade de outrora vai para o cinema e não sente o que nós sentíamos. Mas e o filme, depois de 20 minutos de publicidade? É fraco. E muito. E porque é que é fraco? Ninguém entende. E porque toda a gente gosta? Eu não entendo.

    Eu se fosse para a feira popular (que não vou), não queria o Louvre, mas queria a melhor feira popular possível. O que noto, é que estes filmecos alinham pelo mínimo denominador comum americano (não é dizer pouco) e as pessoas é o que gostam. É o mesmo problema do lixo na televisão: As pessoas vêem lixo porque só dá lixo, ou só dá lixo porque as pessoas querem lixo? A resposta não é fácil.

    No “Despertar da Força” o que vi essencialmente foi cópia de si próprio. É um fenómeno corrente — a Pixar é o que faz agora também (por incrível coincidência é Disney). Entendo o que dizes do relançamento da saga… Sim, vejo a Rey como uma Princesa Leia (ao nível)… um BB-8 como R2-D2 (não era necessário, o R2-D2, ao contrário dos actores, é eterno)… o Kylo Ren como um Darth Vader (dificilmente)… a Phasma como um Boba Fett (já estou a esticar a corda)… e mais? Nada. Tudo o que vale a pena nesta saga está nos outros filmes. Rigorosamente tudo. Este filme conseguiu o impossível que foi não trazer nada de novo. E ainda estragou alguma coisa.

    A trilogia original era magia. A segunda, pecou já por excessiva infantilização sendo o Jar Jar o ponto alto; também pelo casting desastrado para o jovem Darth Vader. Mas o universo foi enriquecido de uma forma inacreditável… Naboo que já referi, o planeta dos clones e a fábrica de clones… o Qui-Gon-Jinn… o Count Doku? Só o Christopher Lee vale este despertar da força inteiro (ou Star Wars: No Hope, como é conhecido por aqui). O General Grievous, um sucedâneo dos robots da Trade Federation, mas outro triunfo. A transformação de Palpatine… O mestre Yoda. Têm tanta coisa boa esses filmes, que é pena não serem perfeitos. Agora que penso nisso, o Jar Jar Abrams e a Disney têm realmente de comer muita broa de Avintes para conseguirem imitar o que foi feito… Com o dinheiro que ganham, podiam comprar Avintes, a ver se o segundo filme sai melhorzinho.

    E já que falas em passado e futuro (ainda te queixas de comentários longos): Eu fui acompanhando a saga pela banda desenhada da Dark Horse. Há milhentos personagens melhores que estes coitadinhos; milhentas histórias melhores, algumas muito boas. Mas, eis que subitamente a Disney diz que já nada disso é “canon”… Nada. Agora o que conta é o relançamento, o filme do Jar Jar, dos comics (pela Marvel) e sei lá que mais… No caso dos comics, o primeiro da Marvel vendeu 25 vezes mais que o último da Dark Horse. Não há nada a dizer. É uma máquina bem oleada, mas eu não gosto.

    O Star Wars sempre foi space opera, dou-te razão claro e nesse sentido, nem será grave a infantilização. Mas o facto é o seguinte: Hollywood só anda à procura do “sweet spot” das tais três gerações, tudo o resto não interessa nada. Deixou de interessar fazer bom cinema, porque é com o mau que se factura. Eu cinema no cinema (vulgo, americano), já só por causa dos filhos e evito ao máximo (este ano, gostei do The Martian e os filhos também).

    A Disney tentou, mas como diria o patrão alado do pequeno Darth Vader, Watto — ““Mind tricks don’t work on me.” A única coisa que quero saber é porque é que o C3PO tem um braço vermelho!

    PS: Ontem vi o Irrational Man que nem sabia que era Woody Allen. Nada mau.

  5. Daniel Carrapa

    Vamos ao terceiro round?

    Compreendo muito do que dizes, mas continuo a pensar que tens o olhar “contaminado” pela desilusão, provavelmente por coisas laterais ao próprio filme.

    É um filme que segue o template do Star Wars original mas que também funciona como soft-reboot. Não é nada de novo. Mais do que isso, se seguisse rigorosamente o lore do expanded universe, com a catrefada de filhos do Han e da Leia, acho que ia parecer a Dinastia. É hora de seguir em frente.

    É um filme divertido e respeitável. Tens Lawrence Kasdan de volta à equipa de argumentistas. Tens Kathleen Kennedy na produção. E, como realizador, J.J. Abrams não é dos piores. Não é dos meus favoritos, mas tem olho para o visual storytelling.

    A fuga de Finn e Poe no Tie Fighter, que tu não gostaste, por exemplo. Em trinta segundos o J.J. estabelece uma relação de amizade. O George Lucas, em três filmes, foi incapaz de construir uma relação credível entre o Anakin e a Amidala.

    Eu sou benevolente com a prequela. Mas, como cinema, são três obras nitidamente menores. Com coisas risíveis. E outras sofríveis. Aqueles diálogos românticos são do pior que já se escreveu. Tudo da pena do George Lucas.

    Há ali coisas boas. Expande o universo Star Wars e enriquece-o, sem dúvida. O melhor, para mim, o retrato de Palpatine, a sua extraordinária complexidade, o longo tempo da sua trama. Excelente. Pena falhar por completo o retrato de Anakin. Não por culpa do Christensen, apesar de ser um actor menor e mal escolhido. Mas por culpa da escrita da personagem. Devia ser muito mais do que um jovenzito com uma frustração amorosa. Mas, isso, enfim, seria outro longo comentário.

    Acho mal que George Lucas diga mal da Disney. A Disney não lhe apontou uma arma à cabeça. Apontou-lhe quatro mil milhões de dólares e ele aceitou. Aliás, já se veio retratar das declarações que fez.
    É verdade que o George Lucas será sempre um tipo que fez coisas fantásticas, fica para a história do cinema. O universo Star Wars. A Industrial Light and Magic. A LucasArts.
    Mas se tenho uma crítica a fazer-lhe é que foi um tipo que raramente aprendeu com os erros. O último Indiana Jones, que escreveu e em que foi produtor executivo, é uma pastelada de cgi miserável.

    Por isso acho bem que o universo Star Wars tenha passado de mãos e que esteja a ser feito com uma nova energia. Fico com pena que não tenhas gostado.

    Para terminar com uma nota mais positiva, e porque concluiste o teu post com um desabafo sobre ficção científica. Acho que estamos num momento de renascimento da sci-fi. Nos últimos anos temos tido imensos filmes de todas as sub-categorias do género. E entre coisas menos boas, alguns filmes muito bons.

    Este ano o The Martian foi um bom exemplo. Como o fantástico Mad Max e o psico-drama Ex Machina. Nos últimos anos: Interstellar, Edge of Tomorrow, Predestination, Automata, Gravity (não é dos meus favoritos, mas pelo menos foi popular), Europa Report, Snowpiercer, Under The Skin, Prometheus (outra longa conversa, tem falhas, é certo, mas podia ter sido mto bom), Upside Down, Inception, District 9… Enfim, entre tantos outros. Acho que não nos podemos queixar.

    Abraço e bons filmes. E Bom 2016. Vamo-nos vendo por essa internet!
    :)

  6. José Rui

    Hehe… para que me lembraste a “música no coração” in space?… Essas cenas também desgraçaram a saga, é um facto.

    Eu dou-te razão em muita coisa também, mas não na mais importante: que este seja um filme bom. É fraco e não é pouco.

    A energia da Disney para o Star Wars vai ser facturar e destruir. Aliás, logo após a compra estava na tv uma daquelas séries horríveis do canal Disney e de repente aparecem lá no meio dos teenagers (os tais actores “mesmo do género que a Disney contrata”, tipo o Boyega) o C3PO e o R2-D2… e eu olhei outra vez e pareceram-me o “real mccoy” e eram mesmo… Depois stormtroopers a disparar blasters. Tinham acabado de dar o dinheiro ao Lucas e já estavam a avacalhar a saga.

    O Indiana Jones é um exemplo de cinema que detesto e obviamente não vi o último, mas aposto que facturou. O ponto de vista é sempre esse, e nesse aspecto o Lucas sempre se vingou de todos os críticos como eu, mas dá um tipo de cinema muito fraco — e admito poder estar contaminado pela desilusão, mas não creio. Esses filmes são para as tais três gerações, não são para mim.

    Tens razão na lista de ficção científica que apresentas, vi praticamente tudo e muito bom. Mas vejo lá o dedo europeu, não vejo Hollywood em muitos deles (ok, mesmo que o sejam). Eu entusiasmo-me e depois esqueço-me do positivo. Mas concordarás que neste ambiente nunca teríamos um Alien (mais uma saga hollywoodizada e arruinada), um Robocop, um Predator, um Blade Runner, ou um 2010.

    Da mesma forma, entusiasmo-me e esqueço-me dos inúmeros filmes reles da mesma época, que se os visse hoje auto-destruia-me de tédio. Mas eram para todos os efeitos filmes série B, mais não se podia pedir (além de que continham em muitos casos excelentes ideias)… Estes não são assim, têm tudo e de alguma forma fazem filmes derivativos, formulizados, clichézados e em última análise sem qualquer interesse.

    Abraço, vai aparecendo! :)

  7. Daniel Carrapa

    Uma última achega. Prometo mudar de opinião – e adoptar a tua – quando a Disney anunciar que decidiu dividir o Episódio 9 em Parte 1 e Parte 2.
    :P

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